Ah... como gosto de passarinhos, seja em bandos ou solitários. Eles me fazem lembrar a alegria da infância e o desejo de liberdade. Na fazenda onde eu morava quando criança havia os bandos de rolinhas que vinham comer o resto de canjiquinha das galinhas, e os canários da terra que vinham comer no curral. E ainda os guachos barulhentos e o anú branco com seu canto lastimoso. Os alegres bem-ti-vis, os sabiás; os melros escolhiam botar seus ovos no tempo de plantar milho quando a comida era farta - ficavam cantando “finque eu ranco”. Ah, as andorinhas que fazim revoadas na varanda à tarde, e o esquisito alma-de-gato. Tantas, tantas outras aves que traziam consigo a mensagem do canto alegre e de mundos distantes, céus distantes, que elas conheciam em seus vôos.
Hoje, moro numa cidade grande, longe da natureza, não tenho perto um parque ou jardim para descansar os olhos da secura da vida urbana. Mas... não sei como, há os passarinhos. Eles trazem a natureza para os meus ouvidos e minha janela. Ao nascer do dia começa a cantoria. Os mais comuns são os bem-ti-vis, mas há muitos outros que eu reconheço pelo canto e não sei de que espécie são.Mesmo assim gosto de acordar e ficar reconhecendo o canto de cada um. As vezes chegam até a minha janela e fazem algazarra. E as vezes alguns vem me visitar pousando em minha janela – o bem-ti-vi gosta de vir fazer uma serenata, mas como é de manhã deve ser uma matinata. Mais raramente aparece um beija-flor, e outro dia veio um desconhecido, ficou por alguns instantes cantando na janela. Os passarinhos sempre me falam de liberdade e de outros mundos a serem descobertos, dentro e fora de mim.
Bom, toda esta história foi para dizer que quando a Verinha me pediu para fazer um jogo americano quase que imediatamente me veio a inspiração de bordar passarinhos. Falando sobre inspiração assim diz o Rubens Alves: “O passáro pousa no nosso ombro, sem que o tivéssemos procurado e apenas nos espantamos de que ele seja assim tão bonito”. Pensei em outros pássaros, mas acabei me inspirando num livro de patchwork que a Adriana me deu (Material Obsession), e escolhi fazer os passarinhos vistos da minha janela. Desejo que a Verinha ao usar o jogo americano receba a mensagem de alegria – minha e dos passarinhos - no longo inverno canadense.