Quando eu era criança amava o jardim da nossa casa. Nós morávamos
na roça, uma casa de fazenda muito simples de onde tenho boas memórias – casa branca,
portas e janelas azuis, a cachoeira, o moinho d’água, a horta, o paiol, o
curral para o gado, o pomar, e nos fundos um jardim perto da bica de água. Naquele
pequeno jardim cabia uma grande variedade de plantas e flores. Tudo junto e
misturado- afinal na natureza não existe monocultura.
Havia o pé de murta dominando o jardim com suas flores
perfumadas e sementes vermelhas que os passarinhos vinham comer; as folhagens
de cores e formas variadas... Os lírios – o “eucarístico” com flores brancas; o
de “S. José” com flores laranja; o “lírio azul” (neomarica – falso iris)-; a
trepadeira “sangue de Cristo”; os beijos de diversas formas e cores; as
açucenas; as violetas; o “suspiro” - uma planta que na época das flores as
folhas morrem e a flor roxa e branca brota da terra -; uma planta com lindas flores
brancas pequeninas: “coroa de noiva”... assim era o nosso jardim.
Comecei a fazer esta colcha conforme um modelo de um
livro de patchwork – o nome era “O jardim de Anne”. Era um modelo com uma
grande mistura de cores. Mas eu tenho dificuldade de emendar pedaços de tecido formando um desenho geométrico. Então, no
meio do trabalho deixei o modelo do livro, e fiz na colcha o jardim da minha
infância.
O jardim da nossa vida é assim: uma grande mistura. Só
quando nos distanciamos, podemos ver a harmonia que existe naquilo
que de perto parecia um emaranhado de cores e formas.
Então vou olhar para esta colcha com gratidão e paciência. Paciência para deixar o tempo passar e eu ver
tudo de certa distância; gratidão porque assim é a minha vida, e tem sido uma
boa vida com os erros e acertos. A mensagem que fica é: não controlamos a vida, ela nos
ultrapassa. Eu não tenho a vida, ela me tem.
Cultive o seu jardim,
e espere florescer...