Da esquerda: Ester, Zélia, Elza, Eunice |
Fazendo uma
retrospectiva vejo que a arte de bordar sempre fez e faz parte da vida de
muitas mulheres em minha família. Mulheres de Minas que tecem no bordado sua
história, na realidade simples de suas vidas. Mulheres de famílias autossustentáveis
e autodidatas onde o conhecimento era passado dos mais velhos para os mais
novos. Mulheres calejadas nas precisões da vida, que aprenderam nas
dificuldades a se contentarem com pouco, a não desperdiçar nada, a transformar
tudo em algo útil. Mas pagaram um preço pela vida contida. Há nelas uma certa
dureza e muitas vezes colocam o dever acima de si mesmas. Aprenderam a
desconfiar dos sonhos e a se realizar nos outros, na doação, no serviço. Mas,
no deserto de suas vidas uma flor insiste em brotar, uma flor que muitas vezes
é revelada em seus bordados.
Minha família é muito simples, do interior, da
roça. Uma família com valores claros, definidos. Com grande fé em Deus e
coragem para trabalhar e vencer as dificuldades da vida. A vida dura não
deixava muito espaço para a beleza. Mas as mulheres da família semeavam beleza
nas flores do jardim e nos bordados. Somos mulheres fortes e frágeis. Que se
deixaram levar pela vida e por circunstâncias que não podiam ser vencidas no
momento, mas que no silêncio e no trabalho alcançaram a vitória e foram muito
além do que as limitações da vida e cultura lhes permitiam. Mulheres que
venceram barreiras e deram significado às suas vidas. Que, de muitas formas,
estiveram à frente do seu tempo, sem fazer alarde. Somos sobreviventes,
resistentes. Sempre procurando conservar
o espírito jovem, tendo motivação para viver, abrindo-se para a vida. Vida que
muitas vezes nos levou por caminhos que nunca pensamos trilhar, sem deixar que
o tempo e as mudanças nos abatam. Nosso corpo envelhece, enfraquece, nossa alma
cresce. Muito desta força foi, e é, tecida em nossos bordados. Bordamos nossas
alegrias e tristezas; bordamos para assimilar os golpes da vida; bordamos como
forma de recolhimento para achar forças para o passo seguinte.
Bordamos a vida... o bordar é tão mágico
quanto ler um bom livro. Ambos nos levam a um mundo diferente – mundo das
letras e imaginação, mundo dos pontos e cores criando beleza. Minhas irmãs
fizeram e fazem o tecido, o bordado, da minha vida. Aprendi muito com elas.
Enfim, bordar
para nós é lazer, descanso, exercício de criatividade para o cérebro, forma de
oração, recolhimento em si mesma para vencer as dificuldades da vida. Assim vamos nós bordando a vida. Num trabalho
em que o espiritual e o emocional se entrelaçam nesta atividade humana. Bordar
a vida é para nós uma forma de encontrar o divino e costurar os contrários em
nós.
Não tive a oportunidade de ver muitos
bordados antigos, mas existe esta bela toalha de bordado vazado feita por tia
Lia. Tia Lia nasceu em 1888 e era a filha mais velha dos meus avós paternos.
Ela mesma desenhava o risco. Esta toalha ela bordou para as bodas de ouro dos
pais, em 1936. É interessante que olhando algo que ela bordou posso sentir um
pouco de sua vida e de como era ser mulher na época em que ela viveu, pois,
sempre revelamos um pouco de nós naquilo que fazemos.
Toalha de mesa feita pela Ester. |
Jogo de cozinha feito pela Zélia |
A Zélia faz de tudo um pouco, mas sua especialidade é o ponto cruz e crochê.
A Elza borda belos quadros. O meu preferido é este sobre a natureza que ela me deu de presente.
Outro quadro da Elza |
Almofada em patchwork crazy |
Eu já fiz de tudo, mas atualmente minha paixão é o patchwork,
especialmente o crazy e apliquê.
Tia, segurei o choro para conseguir terminar de ler esta postagem!
ResponderExcluirNossa família toda borda, cada uma faz um ponto diferente...
Eu adoro ponto cruz, mas, neste final de semana, na roça, comecei a fazer o patch aplique... Vamos ver o que vai dar!
Sua almofada ficou lunda, adorei, tento me inspirar muito em você quando quero aprender ou fazer algo novo, pois sua criatividade é maravilhosa... Saudades de você! Beijão...
Olá Nice!!
ResponderExcluirBela mensagem! Uma homenagem emocionante.
Sou apaixonada pelos trabalhos das nossas bordadeiras.
Amei sua almofada, mesmo sem vê-la pronta.
Hoje alinhavei a minha e confesso que pensei: será que vou conseguir?!
Bem, eu não tenho muita prática em bordado, mas tudo que gostei e me propus a aprender até hoje eu aprendi.
Que o Senhor me ajude neste novo desafio.
Abraços,
Karine
ei vó!!! lindo o seu post! fiquei orgulhosa de fazer parte dessa familia!!! amo mto as minhas tias avós... alias a familia toda de minas! mesmo com tanta distancia eu sempre lembro deles e tenho mto carinho por todos eles....
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